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Os 5 conselhos mais importantes de Stephen King para escritores

O site Homo Literatus traz 22 conselhos de Stephen King, o mestre do horror mundial, para escritores. As dicas estão no livro On Writing. Os que mais têm funcionado para mim são esses:

1. Pare de assistir televisão. Ao invés disso, leia o quanto for possível

Elementar. Se você quer ser um escritor, precisa ter matéria-prima, precisa se alimentar de boas ideias, referências e estilos. Eu tenho lido um livro por semana e quero mais. Sinto que meus textos se tornaram mais fluidos.

2. Escreva primeiramente para si mesmo

Escreva para você, para saciar sua vontade de se expressar, porque isso te traz prazer. King: “Eu fiz pelo puro prazer. Se você pode escrever por prazer, pode fazer isso para sempre”. Concordo. Toda vez que escrevi para tentar agradar os outros (ou por pressão) não deu certo.

3. Leva sua escrita a sério

Escreva por prazer, mas escreva sério. Isso significa que é necessário ser exigente com a qualidade. Não basta escrever, tem que achar a melhor forma de comunicar. Muitas vezes, chego a reescrever mais de dez vezes uma única frase.

4. Aprenda a arte da descrição

É fundamental visualizar a experiência que você quer proporcionar a quem lê. “A descrição começa na imaginação de quem escreve, mas deve terminar na de quem lê”, diz King. A chave para uma boa descrição é a clareza, tanto na observação quanto na escrita. Use imagens limpas e vocabulário simples para não cansar quem lê. Levo esse conselho à risca.

5. Escreva a cada dia

Stephen King: “assim que começo um projeto, eu não paro e não desacelero a menos que eu absolutamente precise. Se eu não escrevo todo dia a personagem começa a mofar em minha mente… começo a perder meu controle sobre o enredo e o ritmo”. É isso. Aqui não tenho nada a acrescentar, a não ser: constância preenche páginas e escreve livros

A arte de produzir efeito sem causa – resenha

Sou fã de Lourenço Mutarelli. O livro “O Cheiro do Ralo” é fantástico e me provocou náuseas e entusiasmo. Leia, caso ainda não o fez. É imperdível.
Com “A Arte de Produzir Efeito sem Causa”, Mutarelli mergulha novamente no tédio e no vazio existencial. Mas, dessa vez, sem o mesmo brilhantismo. Mesmo assim, vale a pena conferir.
O personagem principal é Junior, um cara de 40 e poucos anos que volta a morar com pai depois de perder a mulher e o emprego. Sem grana e sem vontade nenhuma de dar a volta por cima, Junior cai em uma rotina alcoólica que o deixa mais confuso e debilitado. Apesar disso, a sua relação com o pai é amistosa, sem grandes conflitos. Já com Bruna, a jovem bonita e inquilina da casa, a relação é um pouco conturbada.
Junior sente atração por ela, mas não sabe direito o que fazer, até porque com o passar dos dias, ele vai perdendo cada vez mais o prumo, se distanciando da lucidez, abraçando a loucura. É um retrato da desintegração do indivíduo, que de uma hora para outra pode se desmantelar, basta um passo em falso.
A narrativa é árida, tensa, criada para transmitir um niilismo sufocante. E sufoca mesmo. Tanto que sinto falta de um pouco de ironia, de um mínimo de humor que abrande a história. Penso que Mutarelli costurou de propósito todas as cenas nesse clima sombrio. Sua intenção é esganar.
No mais, aprecio bastante a linguagem crua e as frases curtas do autor. As referências ao HQ, ao cinema e ao Kafka estão todas ali. É muito bom, sem precisar ser brilhante. Como eu disse, sou fã do cara.

Cenas de um casal publicitário: ou qualquer outros nas galáxias

Meu primeiro romance retrata o relacionamento conturbado, mas bem-humorado entre Lauro e Lidiane. Ele, redator, 28 anos. Ela, diretora de arte, 25. Namorados desde a faculdade, eles são bem diferentes. Ambiciosa e com personalidade forte, ela sonha em ganhar Cannes, o festival publicitário mais famoso do mundo. Imaturo e preguiçoso, ele não sabe direito o que quer. De família rica, oscila entre a publicidade, a música e a poesia.

Quem trabalha ou trabalhou em agência vai rir, chorar e se emocionar. E quem não trabalhou vai encontrar uma história de opostos que se atraem muito além do clichê.

TOP 5 – os melhores livros que li em 2016

TOP 5 LIVROS
Os cinco melhores livros que li em 2016

TOP 5
“1Q84” DE HARUKI MURAKAMI
É uma trilogia, do badalado escritor japonês Haruki Murakami.
O autor lança mão de mundos paralelos, grupos religiosos e seres fantásticos para criar um clima de suspense, que fisga o leitor. Os parágrafos curtos, as metáforas inteligentes e as citações bem colocadas de outros autores ajudam a devorar as mais de 1.200 páginas. O desfecho, porém, deixa a desejar. Se vale a leitura? Vale. Mas vale pela viagem, não pelo destino.

TOP 4
“A VIDA PRIVADA DAS ÁRVORES” DE ALEJANDRO ZAMBRA
O segundo livro do escritor chileno é um exercício de imaginação provocado pelo ato de esperar. É um romance curto, que vale pela delicadeza, simplicidade e pela mensagem: “ninguém consegue viver sem exagerar um pouco”.

TOP3
“SENHOR DAS MOSCAS” DE WiLLIAM GOLDING
Considerado um dos romances obrigatórios da literatura mundial, possui uma narrativa viva, que flui e eletriza, o enredo expõe medos, fragilidades e deixa uma pergunta seca no ar: até que ponto o poder corrompe a inocência?A resposta talvez esteja nessa frase da Wikipedia: “Senhor das Moscas representa o mal escondido no coração de todos nós.” Resumindo: leia.

TOP2
“A VISITA CRUEL DO TEMPO” DE JENNIFER EGAN
Inicialmente o livro me chamou a atenção pelo título. Verdadeiro e poético. Depois, meu interesse aumentou quando vi que tinha levado o Prêmio Pulitzer de 2011. Se você gosta de histórias contadas do modo convencional, com protagonistas, começo, meio e fim, então vai estranhar o livro. Mas é um estranhamento bom, que apresenta um jeito novo de narrar, uma espécie de caleidoscópio da vida, com recortes, memórias e vozes distintas. Todos nós, mais ou menos no mesmo plano. Perca um tempo e leia. Ou ganhe. Você só vai saber, lendo.

TOP1
“O FILHO ETERNO” DE CRISTOVÃO TEZZA
Um livro autobiográfico, que delata a relação do autor com o seu filho que possui síndrome de Down. Escrita em terceira pessoa, a história é reveladora, angustiante, crua. Cristovão Tezza não mede as palavras para descrever sua decepção e vergonha com o nascimento de um filho com deficiência. Com extrema transparência e (in) sensibilidade, Tezza costura os sentimentos que experimenta e as situações vividas. Expõe suas fraquezas e mesquinharias com lente de aumento. Sim, não tenho dúvidas, escrever em terceira pessoa foi a alforria que o autor precisava para tanta sinceridade, foi o que possibilitou o distanciamento para se enxergar sem maquiagem.“Ele pensa em Nietzche e no horror da misericórdia, a humilhação como valor, a humildade como causa, a miséria como grandeza. Pois o seu filho, confirmada a tragédia, nem mesmo a esse ponto (ele olha em torno) chegará, porque não terá cérebro suficiente para inventar um deus que o ampare e não terá linguagem para pedir um favor.”
É um livro cativante. Obrigatório. Não é à toa que ganhou inúmeros prêmios. Não é à toa que sou fã de Tezza.

“A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA” DE CLÓVIS DE BARROS FILHO E ARTHUR MEUCCI, RESENHA

A vida que vale a pena ser vivida

Um livro inconclusivo e, por isso, interessante.

Ao longo da obra, preceitos filosóficos são apresentados com o intuito de conceituar o que seria uma vida boa e quais os caminhos (possíveis) para alcançá-la.

Porém no final não há nenhum lista ou resumo relembrando tudo aquilo que foi apregoado. Não há moral da história, porque o “filósofo pode te ajudar fazendo perguntas que motivem a reflexão. Mas não conte com ele para dar a resposta certa no final”, os autores alertam ainda no início.

Isso é ruim? É honesto. O que se pretende é uma reflexão crítica sobre os critérios mais consagrados sobre viver bem. Mais uma vez no início, o livro tem outra advertência: “…a soberania para deliberar sobre a própria vida – como todos os riscos – é nosso único e verdadeiro patrimônio. Inalienável.”

Então, livres do compromisso de dar a receita infalível para uma vida feliz e plena, os autores vão desfilando os pensamentos de Platão, Sócrates, Sêneca, Epicuro, Espinoza, Kant, entre outros.

Com uma linguagem simples, descontraída (às vezes até em excesso) e exemplos práticos, tirados do dia a dia, as ideias tomam forma. Se eu recomendo? Sim, é uma leitura leve e cumpre o papel: faz refletir.

Em cada capítulo, pincei uma frase para transmitir a essência da obra. Notem que algumas delas são complementares, outras um tanto quanto contraditórias. Como a própria vida.

VIDA PENSADA: A vida valerá tanto mais a pena ser vivida quanto menos o corpo e seus apetites derem as cartas.

VIDA AJUSTADA: A vida que vale a pena… vale por ela mesma. No instante em que é vivida. E isso acontece quando nos ajustamos ao universo. Ocupando o lugar que é nosso, desempenhando com excelência a atividade para a qual fomos talhados e buscando a finalidade que é nossa como parte do todo.

VIDA PRAZEROSA: Só a busca do prazer – que pressupõe a satisfação dos desejos naturais e necessários com comedimento – permite a realização da felicidade. Porque a busca da satisfação de outros tipos de desejo e exageros são perturbadores. Tanto nos sucesso como no fracasso.

VIDA TRANQUILA: Só começaremos a ser felizes quando aceitarmos que o mundo não gira ao nosso redor. Que as pessoas não foram feitas pelos deuses para atenderem suas carências. Por isso, a tranquilidade, condição da vida boa, pressupõe a desesperança. A conciliação com a realidade.

VIDA SAGRADA: Para viver bem é preciso confiar. Confiança num Deus que, de fora, criou o mundo. Transcende ao mundo, portanto.

VIDA POTENTE: E, assim vamos: em luta pelos encontros alegres de nosso corpo com o mundo; por evitar os tristes; por imaginar coisas que aumentam a potência de agir do corpo e a potência de pensar da alma; bem como evitar as imaginações que enfraquecem, que refreiam ambos.

VIDA ÚTIL: Somos herdeiros de um saber prático que nos permite deliberar não só em função do que estimamos causará a felicidade hoje, mas também a dos que estão por vir.

VIDA MORALIZADA: Não é possível conceber coisa alguma no mundo, ou mesmo fora do mundo, que sem restrição possa ser considerada boa, a não ser uma só: a boa vontade.

VIDA SOCIALIZADA: Já que a sociedade triunfa sobre nossa singularidade afetiva, a vida boa pressupõe um alinhamento. Uma adequação entre nossas inclinações e o que os demais esperam de nós. Para que nos aplaudam. Ou para que apanhemos menos.

VIDA INTENSA: Nesta centelha de vida intensa gostaríamos que tudo ficasse como está. Que nada mudasse. Centelha de eternidade no mundo da vida.

Repito, para mim, valeu.

 

1Q84 de Haruki Murakami, resenha

1q84

Acabei de ler a trilogia “1Q84” do badalado escritor japonês Haruki Murakami.

Os livros contam as histórias de Aomame e Tengo. Ela, uma instrutora de artes marciais e assassina. Ele, professor de matemática e aspirante a escritor. O autor lança mão de mundos paralelos, grupos religiosos e seres fantásticos para criar um clima de suspense, que fisga o leitor.

Sim, queremos saber o final. Os parágrafos curtos, as metáforas inteligentes e as citações bem colocadas de outros autores ajudam a devorar as mais de 1.200 páginas.

O desfecho, porém, é decepcionante. Não explica alguns mistérios propostos na trama (quem é, afinal, o Povo Pequenino?) e nem atinge o clímax. Tudo termina de maneira muito simplista, esquisita, vaga demais. As constantes explicações do autor sobre com pensam os protagonistas também deixam a desejar, são repetitivas e cansam.

Se vale a leitura? Vale. Mas vale pela viagem, não pelo destino.

E se a morte parasse de matar?

As Intermitências da Morte

A visão romântica é de que viveríamos felizes para sempre. Imagine só a imortalidade para todos nós. Viva! Mas calma lá. Seria só felicidade mesmo?

No livro “As Intermitências da Morte”, o português José Saramago, nobel de literatura,  nos oferece um mundo em que a morte se ausenta, mas todo o resto continua. Pessoas não param de envelhecer, doenças não somem do mapa, a violência não dá trégua.

Então, do que adianta? Sociedade, Estado e Igreja entram em colapso. O mundo explode demograficamente, funerárias quebram, hospitais e lares de idosos ficam abarrotados, e a igreja fica sem função, já que ninguém mais passa ‘dessa para melhor’.

Com a sua peculiar e refinada ironia, o autor nos envolve em uma trama que se desenrola apresentando a ceifadora de vidas de forma sensível e humana.

Sim, a morte tem coração. E diante de tantos problemas que a sua falta acarreta conseguimos enxergar os benefícios de seu penoso trabalho. Pobre alma penada!

Saramago lança mão de uma hipótese original e desfila seu estilo crítico-reflexivo fortalecendo a sua marca registrada: um texto com estrutura diferenciada, em que descrições, diálogos e fluxos do pensamento estão juntos e misturados.

Para quem não está acostumado, a princípio essa miscelânea pode causar estranheza. Porém, depois de algumas páginas, não tem como não se sentir fisgado. Destaco o depoimento de Gabriela Silva a respeito: “Invejo aqueles que ainda nada leram de Saramago, eles podem descobri-lo ainda”.

Se você ainda não leu, faça-o o quanto antes. Você vai ver a morte com outros olhos.

E a vida também.